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Humildade contra o caos urbano

Os problemas de deslocamento das populações estão entre os maiores desafios das grandes cidades. Juntando a tendência de aumento da urbanização – que se observa principalmente nos países em desenvolvimento – e a importância dos sistemas de transporte nas emissões de gases de efeito estufa, nota-se um quadro caótico.

Não há mais dúvida de que esse problema só será resolvido com um planejamento urbano que contribua para o aumento da eficiência dos deslocamentos. As soluções passam pela melhoria dos sistemas de transporte público e, dentro do possível, pelos incentivos para que as pessoas procurem morar próximas de seus locais de trabalho e demais atividades.

A solução dessa equação complexa é fundamental, em primeiro lugar, para que as cidades se tornem lugares agradáveis para se viver. Também está em jogo a sobrevida das áreas urbanas e todo o desenvolvimento econômico e social que elas podem trazer.

No cenário atual, resta aos cidadãos ir se adaptando da melhor forma possível para resolver seus problemas particulares. Para driblar a falta de imóveis nas áreas centrais e o custo elevado deles, busca-se opções na periferia, além de um carro novo. Apenas no primeiro semestre deste ano foram vendidos 2 milhões de automóveis. Os políticos, por sua vez, parecem atônitos, sem saber nem por onde começar. Por outro lado, são pressionados ou têm grande interesse no desenvolvimento de obras faraônicas e de utilidade duvidosa para o bem comum.

Os agentes financeiros multilaterais podem ter um papel estratégico para desembaraçar esse verdadeiro nó urbano. Mais do que preocupados com as taxas de retorno de investimentos, eles estão interessados em promover o desenvolvimento de uma determinada área. Assim, possuem absolutamente nenhum interesse em deixar que a situação fique como está. Ou seja, ao disponibilizar recursos para determinado projeto, há um olhar muito mais crítico e sistêmico para identificar de que maneira aquela obra em particular está inserida num contexto de sustentabilidade. Dessa forma podem contribuir para que a área possa continuar se desenvolvendo em termos econômicos e sociais, ao mesmo tempo em que reduzam os seus impactos ambientais.

O melhor exemplo nesse sentido é o projeto Transmilênio, implantado na última década em Bogotá, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na capital colombiana, os transportes públicos são responsáveis pelos deslocamentos de 69% da população. Considerando essa realidade, o projeto buscou exatamente dar garantias para que essa locomoção pudesse ser feita nas melhores condições possíveis. Isso envolveu não só a disponibilidade dos meios de transporte – ônibus, microônibus e ônibus articulados –, como a organização de uma malha de corredores e infra-estrutura de apoio, incluindo estações, pontes e túneis para passagem de pedestres, entre outros itens.

Hoje o Transmilênio é o sistema de ônibus de trânsito rápido mais usado do mundo, com o transporte de 1,4 milhão de passageiros por dia ao longo de 88 quilômetros de vias exclusivas e sistemas de alimentação integrados. O projeto é tão benéfico para a melhoria do tráfego na cidade que sua engenharia financeira contemplou até mesmo a venda de créditos de carbono.

O desenvolvimento de um projeto desse tipo depende de muitos fatores, a começar pela humildade de se aprender com exemplos que funcionaram. Diante da grave crise econômica pela qual passam Europa e Estados Unidos, a disponibilidade de recursos também tende a ser muito mais limitada do que em momentos de maior pujança econômica. Outro desafio é estimular os cidadãos a também buscar e pressionar por soluções em prol do coletivo.

De qualquer forma, o recado está dado: a sustentabilidade das nossas cidades depende fundamentalmente dos avanços da infra-estrutura voltada para seu desenvolvimento econômico e social. Parem as britadeiras e escavadeiras! Vamos reavaliar do início e, com base nos casos de sucesso, quem sabe conseguir com que São Paulo e nossas demais capitais tornem-se cidades mais humanas.

 

Marco Antonio Fujihara é engenheiro agronômico, consultor do Banco Mundial no Brasil para investimentos em sustentabilidade e diretor do Instituto Totum.

25/08/2011

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